segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Assim como a pracinha está em cima está embaixo!



13/04/2010 - EV

Este texto (quase um artigo, assim seria se eu o enquadrasse nas normas), terá três instantes: o primeiro quando será feita a exposição deste mundo configural dos antigos egípcios; o segundo que contará a história-estória da Xaloç@ e o surgimento deste mundo "Entre Nós" [1]; e por último, as atitudes análogas entre estes dois povos míticos no tocante a essa realidade correspondente.


O Egito sempre exerceu grande fascínio sobre mim, mas a simples apreciação de sua história ou enumeração dos componentes de seu panteão nunca me pareceu o bastante. Com o tempo e o interesse, comecei a maturar uma idéia que encontrava ressonância com diversas tradições que não somente a egípcia. Após ler um artigo de uma universidade mantida por uma fraternidade que alega ter remotas (e ordinariamente ponderáveis) ligações com o Egito Antigo, comecei a ver com outros olhos os mistérios que cercam o povo faraônico. A egiptologia apontou comumente para estas definições que mencionei, enunciados cartesianos que evitavam a desconcertante espiritualidade egípcia, simplesmente incompreensível aos moldes greco-romanos de nossas interpretações acerca de sua cosmogonia. A falta de relativismo em nossas perspectivas condenou por muito tempo, sem direito a nenhum recurso, culturas muito profundas à categoria de primitivas e supersticiosas. Sinto como se o inconsciente coletivo convulsionasse e parisse um filho contemporâneo da santa inquisição: A cádetra.
Todas as descobertas indicavam a típica concepção ocidental: os deuses atuavam antes da vida, na emanação daquela alma; durante, exercendo influência sobre decisões, sendo passíveis de consultas, governando a natureza circundante, provendo suprimentos e etc; e ao fim, no acerto de contas, o típico julgamento, no caso egípcio quando os deuses funestos pesavam o coração do devoto na balança, tendo por contrapeso a pena de Maat. Ah, doce Maat... Seja bem-vinda neste humilde tratado. O faraó recebia o título, quando entronizado em seu trono, de Neb Maat, que significa “Senhor de Maat”. Uma citação: “Para os antigos egípcios, o mundo físico é o reflexo de um mundo superior no seio do qual residem os poderes divinos que estão na origem dos fenômenos terrestres [2].”
Aqui começamos a adentrar neste mundo “imaginário” para os egiptólogos, mas que para os egípcios possivelmente constituía a contraparte invisível do vale do Nilo. Neste ponto somos obrigados a rever a linearidade com que enxergávamos a teogonia egípcia. O funcionamento deste universo descrito abundantemente em seus diferentes aspectos nos textos do Novo Império é totalmente “irracional”. Era como se existisse um plano correspondente, abstrato, para a realidade física, algo que passa vagamente pelo próprio princípio da Correspondência (Hermetismo), ou o plano das idéias de Platão (lá longe...), ou até a Umbra de “Lobisomem, o Apocalipse”... Mas que só faz sentido mesmo, se tentarmos compreender à luz de suas próprias produções. Outra citação: “Este mundo, que era acessível por meio de uma criação mental, foi concebida à imagem do meio natural que constituía as duas terras, até o ponto de, neste mundo superior, existir um Nilo celeste pelo qual viajava cada dia a barca do sol do leste papa o oeste. Este era o céu superior, o reino de . Ao chegar a noite, depois de desaparecer no horizonte ocidental, o sol tomava a barca da noite para remar do oeste ao leste no céu inferior chamado Duat”.
Neste mundo matricial, as coisas que se davam lá repercutiam na realidade terrena. Mas obviamente pouco se sabe sobre esta realidade paralela, uma vez que numa sociedade iniciática como a egípcia, muitos saberes eram passados oral ou alegoricamente, encontrando solo fértil entre os próprios filhos daquela terra, obviamente por endoculturação. Lefebure, egiptólogo do século passado dizia o seguinte: “Os escribas escreviam para os egípcios e não para os egiptólogos”.
E Maat? No Heb Sed , o faraó era projetado neste universo e recebia o Kha real. O que era projetado neste plano, ao receber o farfalhar das asas de Maat “rasgava” os planos e repercutia no mundo das manifestações. Ir a este mundo e lançar a vontade em suas brumas é como digitar o endereço de uma home-page, invocar as Leis de Maat seria como apertar o Enter, ou melhor, clicar em “atualizar”...
Perante o povo, o faraó era aquele que dava a garantia de Maat: “Para que a ordem reinasse na terra, devia reinar uma profunda harmonia entre esses dois universos. Maat representava esta harmonia. O faraó, como iniciado, 'Mestre de Maat', tinha o poder de penetrar no mundo superior, de atuar a partir deste plano sobre as causas metafísicas dos fenômenos físicos. O universo imaginário dos antigos egípcios é revelado através dos diferentes mitos do vale. Estes mitos plasmavam, em imagens concretas, conceitos totalmente abstratos e serviam de base à visualização, a qual permitia estabelecer o contato com o plano superior.”

Isso é muito significativo, porque posiciona o indivíduo numa realidade holística, integrada, onde ele se sente importante, como se dependesse dele também os fenômenos naturais. Algo como se as cheias do Nilo dependessem de suas oferendas, percebe? Simplesmente lindo. Isso é o que falta para o homem pós-moderno, largado de pára-quedas em um mundo caótico, vertiginoso, sentindo-se insignificante ante a grandeza do cosmos. Exceto alguns poucos, que com um urro de suas almas, ainda promovem o nascer de sóis.

O monge se recolherá por poucos instantes em sua cela mágicka para trazer o restante do post. Até mais ver.

[1] - "Entre Nós" é o documento máximo sobre a biografia dos integrantes da xaloç@. Autoria de um escriba x@loceiro chamado John Dee Lucas, que será em breve revelado ao mundo.

[2] - Quem fizer questão das referências deixa um coment. com e-mail q envio um material.

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